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Um olhar sobre o passado de São Brás de Alportel

O território que actualmente é ocupado pelo concelho de São Brás de Alportel esconde a História de muitos milhares de anos.

A ocupação humana no Concelho de São Brás de Alportel ascende à Pré–História (desde o Paleolítico), como atestam diversos achados, tais como lascas de sílex, quartzo e quartzito, um brunidor de xisto negro e um seixo em xisto jaspóide que parece ter desenhado numa das superfícies um bovídeo e, na outra, um cavalo (arte móvel).

No que se refere à Proto-História, o desconhecimento é ainda total. Os períodos históricos mais representados e, por isso, mais estudados são o romano e o medieval islâmico.

 

Multimédia0Na época Romana

A presença Romana ficou testemunhada, neste território, por diversos vestígios que nos apontam para a existência de possíveis necrópoles, casais agrícolas, uma villa, uma mutatio (estação de muda de animais e carros para viajantes) e as calçadas que integravam a antiga rede viária romana. Esses sítios foram identificados pela presença de fragmentos de cerâmica fina (campaniense e terra sigillata), comum, de armazenamento (ânforas e dolia) e de construção (tegulae, ímbrices, tijolos) e de iluminação (lucernas), bem como pela descoberta de um mascarão de asa de sítula (pega de panela) e de sepulturas com espólio associado, cuja cronologia mais antiga remete para o século II/I a.C. prolongando-se até ao IV–V d.C.(PEREIRA, 2002b:2).

De salientar ainda os dois monumentos funerários, em forma de ara, em que um deles (IRPC 64) apresenta, além da inscrição a Cecília Marina, uma decoração em relevo nas quatro faces considerada nica no Conventus Pacensis (ENCARNAÇÃO, 1984: 112-113).

 

Na época Islâmica

Multimédia1A ocupação Islâmica está atestada através de fontes documentais (séculos XI-XIII) (KHAWLI, 2007: 22) e de sítios arqueológicos com uma ocupação cronológica compreendida entre os períodos Califal (séculos X-XI) e Almóada (séculos XII-XIII), designadamente alcarias e pequenos povoados agrícolas, alguns localizados junto de vias calcetadas (PEREIRA, 2004a).Esses sítios foram identificados pela presença de artefactos cerâmicos: louça de mesa (decoradas a “corda seca” e vidrados melados com decoração a manganês), de cozinha (panelas e alguidares), de armazenamento (cântaros, talhas) e de construção (telhas digitadas); e ainda por artefactos metálicos: tais como dois amuletos (objectos profilácticos) que contêm inscrições religiosas (séculos XI-XII e XII-XIII), e um conjunto de moedas que integra um dinar (moeda em ouro).Desde a época romana (século II/I a.C.) até à fundação do concelho, em 1914 (século XX) São Brás de Alportel pertenceu ao termo da cidade de Faro (Ossonoba), motivo pelo qual a sua história mantém, ao longo de todos estes séculos, uma estreita relação com a dessa cidade.Contudo, pouco se sabe da história do actual concelho de São Brás de Alportel no período que medeia entre 1249/50 (2ª metade do século XIII - última conquista do Algarve) e 1517 (inícios do século XVI - Visitação da Ordem de Santiago).

 

Na época Moderna

No século XV, São Brás de Alportel seria um lugar com uma simples ermida. Este pequeno templo situava-se junto à antiga via de origem romana – a actual “Calçadinha” – que fazia a ligação, no termo de Faro, entre esta localidade e as terras do Norte. As poucas notícias conhecidas são, em regra, muito tardias.

Em meados do século XVI, à semelhança do que aconteceu em diversas localidades algarvias, São Brás de Alportel foi elevada a sede de freguesia e, consequentemente, reconstruído um novo templo e mais amplo.

Entre os séculos XVII e XVIII, na sequência da transferência da sede de bispado de Silves para Faro (1581), o então Bispo do Algarve mandou construir aqui o Palácio Episcopal.

 

Na época Contemporânea

Durante o século XIX, a freguesia tornou-se um importante centro económico. As plantações de sobreiros incentivaram o desenvolvimento comercial e fizeram de São Brás de Alportel o maior centro produtor de cortiça de Portugal.

No início do século XX (1912), São Brás de Alportel era a maior freguesia do concelho de Faro, contando cerca de 12.500 habitantes. A expansão económica e populacional da freguesia constituiu um factor decisivo para a sua elevação a concelho.

Multimédia2O movimento em defesa da autonomia de São Brás de Alportel surgira no início do século XX, motivado pelo crescimento económico da aldeia. É a Comissão Paroquial Republicana quem assume a organização do movimento, que ganha força a partir de 1910, pois são mais favoráveis as condições políticas e encontram-se no governo os velhos correligionários da propaganda republicana, conhecidos de João Rosa Beatriz.

São muitas as barreiras que se levantam às pretensões dos republicanos são-brasenses. João Rosa Beatriz deslocou-se a Lisboa por diversas vezes, solicitando o apoio de várias personalidades que se revelaram decisivas para a concretização daquele desejo.

Em Dezembro de 1912, o seu chefe revolucionário Machado Santos apresenta, na Câmara de Deputados, o projecto de lei que outorga a autonomia administrativa da então freguesia mais populosa do concelho de Faro.

Pelo esforço e diligência de João Rosa Beatriz, o projecto de lei foi aprovado e publicado em Diário do Governo, a 1 de Junho de 1914, elevando a Concelho a freguesia de São Brás, com a denominação de Alportel e com sede na aldeia de São Brás. Tornava-se realidade o sonho de quantos esperavam há muito o alvorecer do dia em que a aldeia de São Brás de Alportel seria elevada a concelho.

No percurso dos acontecimentos, foi criada então uma Comissão Administrativa provisória, presidida por Virgílio de Passos. Para instalar o novo Município, e após acesas lutas, foi autorizada, no dia 5 de Setembro, a cedência à Câmara de Alportel do Paço Episcopal e respectiva cerca e Residência paroquial, para ali funcionarem as escolas oficiais do ensinoprimário e as repartições públicas, municipais e do Estado.

No dia 14 de Outubro daquele ano, João Rosa Beatriz foi nomeado, pelo Governador Civil de Faro, para o cargo de administrador interino do concelho (cargo equivalente ao que hoje conhecemos como Presidente da Câmara), estabelecendo como prioridades a educação pública, a segurança e a manutenção da ordem pública, bem como as acessibilidades à vila de São Brás de Alportel.

A 8 de Novembro, foi eleita a primeira Comissão Municipal de São Brás de Alportel, sendo José Pereira da Machada, o presidente do Senado.Pouco tempo depois, uma súbita mudança política alterou o rumo dos acontecimentos. O governo democrático nomeara um novo Governador Civil para o distrito de Faro, o qual, por sua vez, exonerou João Rosa Beatriz do seu cargo, substituindo-o pelo Dr. José Baptista Dias Gomes.Destituído do seu cargo, João Rosa Beatriz não deixa de professar os seus ideais e o seu amor à terra onde nasceu, lutando ainda por vários benefícios para o seu concelho: a instalação de uma biblioteca móvel na vila, a criação de um cartório municipal, a colocação de um carteiro rural no município e a instalação da linha-férrea de ligação entre Loulé e São Brás.

Em Abril de 1916, durante um violento motim, o batalhão de voluntários que então chefiava teve ainda um papel fundamental no restabelecimento da ordem pública em São Brás.

Porém, o mundo assistia à destruição provocada pela Primeira Guerra Mundial. De São Brás de Alportel partiram muitos jovens recrutados pelo Exército, enquanto outros procuravam novos rumos para os seus negócios e para as suas vidas.

E os ventos da História obrigaram a que muitos dos sonhos que guiaram os intrépidos fundadores do concelho de São Brás de Alportel tivessem aguardar décadas para se concretizarem.

Bibliografia:ENCARNAÇÃO, J. d', (1984), Inscrições romanas do Conventus Pacensis. Subsídios para o estudo da romanização, 2 Vols., Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Coimbra, Coimbra, pp. 112-113 e 116-117.KHAWLI, Abdallah, (2002), Quelques réfletions sur l’histoire de l’Algarve pendant les premiers siècles de l’islamisation (VIII-XIème siècle). in, XARAJÎB 2, Revista do Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves, Silves, pp. 21-38.PEREIRA, Angelina, (2002b), O Legado Romano, Edição Câmara Municipal de São Brás de Alportel, São Brás de Alportel.id, , (2004a), O Legado Islâmico, Edição Câmara Municipal de São Brás de Alportel, São Brás de Alportel.Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de São Brás de AlportelAngelina Pereira