… “Pelos meados de 1800, o labor dos homens e das mulheres de São Brás de Alportel originou um período de desenvolvimento tal, que começaram então a surgir os primeiros sinais do sentimento de uma maioridade construída a pulso. A cortiça, os negócios e a expansão urbanística, com uma arquitetura sóbria mas afirmativa, caracterizaram assim os últimos anos do século XIX. A freguesia tornou-se um importante centro económico. “
Emanuel Sancho
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No início do século XX (1912), São Brás de Alportel era a maior freguesia do concelho de Faro, contando cerca de 12.500 habitantes. A expansão económica e populacional da freguesia constituiu um fator decisivo para a sua elevação a concelho.
“Logo a partir dos primeiros anos de 1900, um grupo de são-brasenses assumiu a voz da população e com crescente intensidade iniciou um processo que, de forma aguerrida e persistente, conheceu o seu epílogo em 1914, com o nascimento do então denominado Concelho de Alportel.”
Emanuel Sancho
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João Rosa Beatriz nasceu em São Brás de Alportel, em 1881, foi republicano e defensor da criação do município de São Brás de Alportel.
O movimento em defesa da autonomia de São Brás de Alportel surgira no início do século XX, motivado pelo crescimento económico da aldeia. É a Comissão Paroquial Republicana quem assume a organização do movimento, que ganha força a partir de 1910, pois são mais favoráveis as condições políticas e encontram-se no governo os velhos correligionários da propaganda republicana, conhecidos de João Rosa Beatriz. Mas são muitas as barreiras que se levantam às pretensões dos republicanos são-brasenses. João Rosa Beatriz deslocou-se a Lisboa por diversas vezes, solicitando o apoio de várias personalidades que se revelaram decisivas para a concretização daquele desejo.
Em Dezembro de 1912, o seu chefe revolucionário Machado Santos apresenta, na Câmara de Deputados, o projeto de lei que outorga a autonomia administrativa da então freguesia mais populosa do concelho de Faro. |
Pelo esforço e diligência de João Rosa Beatriz, o projeto de lei foi aprovado e publicado em Diário do Governo, a 1 de Junho de 1914, elevando a Concelho a freguesia de São Brás, com a denominação de Alportel e com sede na aldeia de São Brás. Tornava-se realidade o sonho de quantos esperavam há muito o alvorecer do dia em que a aldeia de São Brás de Alportel seria elevada a concelho.
No percurso dos acontecimentos, foi criada então uma Comissão Administrativa provisória, presidida por Virgílio de Passos. Para instalar o novo Município, e após acesas lutas, foi autorizada, no dia 5 de Setembro, a cedência à Câmara de Alportel do Paço Episcopal e respetiva cerca e Residência paroquial, para ali funcionarem as escolas oficiais do ensino primário e as repartições públicas, municipais e do Estado.
No dia 14 de Outubro daquele ano, João Rosa Beatriz foi nomeado, pelo Governador Civil de Faro, para o cargo de administrador interino do concelho (cargo equivalente ao que hoje conhecemos como Presidente da Câmara), estabelecendo como prioridades a educação pública, a segurança e a manutenção da ordem pública, bem como as acessibilidades à vila de São Brás de Alportel. A 8 de Novembro, foi eleita a primeira Comissão Municipal de São Brás de Alportel, sendo José Pereira da Machada, o presidente do Senado.
Pouco tempo depois, uma súbita mudança política alterou o rumo dos acontecimentos. O governo democrático nomeara um novo Governador Civil para o distrito de Faro, o qual, por sua vez, exonerou João Rosa Beatriz do seu cargo, substituindo-o pelo Dr. José Baptista Dias Gomes. Destituído do seu cargo, João Rosa Beatriz não deixa de professar os seus ideais e o seu amor à terra onde nasceu, lutando ainda por vários benefícios para o seu concelho: a instalação de uma biblioteca móvel na vila, a criação de um cartório municipal, a colocação de um carteiro rural no município e a instalação da linha-férrea de ligação entre Loulé e São Brás.
Em Abril de 1916, durante um violento motim, o batalhão de voluntários que então chefiava teve ainda um papel fundamental no restabelecimento da ordem pública em São Brás.
Porém, o mundo assistia à destruição provocada pela Primeira Guerra Mundial. De São Brás de Alportel partiram muitos jovens recrutados pelo Exército, enquanto outros procuravam novos rumos para os seus negócios e para as suas vidas. E os ventos da História obrigaram a que muitos dos sonhos que guiaram os intrépidos fundadores do concelho de São Brás de Alportel tivessem de aguardar décadas para se concretizarem…