HOMENAGEM A TÍTULO PÓSTUMO
Costureira Desta feita, estivemos à conversa com a costureira Maria José, desfiando histórias de tesoura e linha, numa vida dedicada às artes da costura.
Maria José tem 88 anos, bem escondidos sob o sorriso e o olhar de uma jovem. Nascida e criada na Mesquita, descobriu aos 18 anos o ofício da costura, com a irmã, que tinha ido aprender para Faro e ao longo de 66 anos, foi costureira de “corpo e alma”! Mais do que uma profissão, a costura foi sobretudo uma grande paixão; e só a doença de coluna, causada pelas longas horas de trabalho, a obrigou a abandonar o ofício há 4 anos, dando descanso aos olhos, tão castigados durante quase 7 décadas de trabalho, principalmente quando tinha que costurar roupa escura durante a noite, como recorda… Actualmente, é com tristeza que recusa os muitos pedidos que ainda vão chegando. Reconhece as suas limitações, mas garante que o “bichinho” continua vivo, e que por isso não resiste a continuar a costurar, nem que seja apenas para a família.Noutros tempos, Maria José, a conhecida Zezinha, era uma verdadeira mestra nas artes da costura: das suas mãos nasciam fatos, blusas e vestidos, casacos e até disfarces de carnaval, trajes para as marchas dos Santos Populares, famosos vestidos de chita e bonitos vestidos de noiva. Corria longe a fama da sua habilidade e por isso choviam pedidos, tanto de pessoas humildes, como de famílias mais abastadas. A todos, gostava de servir, com o mesmo empenho e dedicação!A sua casa foi sempre o seu local de trabalho, mas em épocas de mais serviço, era chamada pelos donos das lojas, conhecedores do seu talento, para dar auxílio. A casa da costureira era um lugar de constante agitação: com o movimento das freguesas, em dias de prova; e o entra e sai das raparigas que vinham “à costura”, aprender com a Zezinha os truques do ofício. Naquele tempo, enquanto os homens procuravam emprego na cortiça ou na construção, muitas mulheres procuravam arranjar trabalho na costura.Enquanto contava a sua História de Costureira, Maria José mostrou-nos o cantinho onde costurava, e a máquina de costura que ao longo dos anos a acompanhou e que continua bem estimada. Em jeito de segredo, confessou-nos que o seu truque foi sempre a forma de “talhar”, que lhe permitia aproveitar muito bem o tecido e fazer autênticos milagres. Em tempos difíceis, muitas vezes o pano era pouco para o que as freguesas pretendiam, parecia mesmo não chegar, mas as artes da Zezinha, a sua imaginação e paciência sempre encontravam forma de levar a cabo a obra.
Para os curiosos, ficam os 6 passos da costura:
Primeiro, há que tirar as medidas ao freguês; depois talha-se o tecido com as dimensões e os feitios desejados. Faz-se então a 1.ª prova, depois é cosida a peça, faz-se uma segunda prova (que Maria José sempre dispensava, dada a sua mestria) e é chegada a hora de experimentar e entregar o trabalho concluído.