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Uma homenagem a Armando Gonçalves

O Município de São Brás de Alportel presta reconhecida e sentida homenagem, com a colaboração dos seus familiares

 

Armando Dias Gonçalves foi para a tropa em outubro de 1968.

Começou como voluntário em Tancos, na base dos paraquedistas. Esteve lá quinze dias com um colega da Várzea do Grau. Regressado a casa, seguiu depois para a recruta em Lagos como condutor. Seguiu-se a Figueira da Foz para a especialidade, depois Tomar, durante um mês e tal, e aí já sabia que ia para Ultramar… Conta que até hoje foi das coisas que mais o comoveu: saber que ia para Ultramar. Nessa altura vivia sozinho com a mãe. Ainda meteu os papéis para «Amparo de Mãe», mas de nada lhe valeu. Ultramar significava ir para a guerra, o que o levava desmotivado e triste, «eu deixei a minha mãe sozinha, para mim foi um dos momentos mais tristes da minha vida». No dia da partida, o cunhado, Albino Martins Dias, foi buscá-lo com um burrinho e levou as coisas até à Estação de Loulé, a mãe ficou num pranto de lágrimas. A despedida do cunhado também não foi fácil, emocionaram-se bastante…

O comboio foi para a estação de Santa Apolónia. Embarcaram no Vera Cruz. Foi bastante comovente, toda a gente no porto a acenar com o lenço branco. A viagem de dez dias teve paragem na Madeira, vinham ao barco vender bananas, nessa altura quase ninguém sabia o que era bananas. De lá de cima diziam o que queriam, eles mandavam uma corda com uma cesta e depois as coisas e o dinheiro em troca.

Chegados a Angola, desembarcaram e foram para o Grafanil, acampamento onde as tropas se juntavam. Estiveram lá entre 8 a 15 dias.

Depois o Batalhão a que pertencia, 2873, Companhia 2509, foi diretamente para Zalala, tudo em capim, mata, a 80 km de uma pequena aldeia, onde iam buscar os mantimentos para se alimentarem, farinha, frutas, peixes. Todas as semanas vinham de Zalala a Quitexe buscar a comida e bebida. Às vezes iam almoçar fora para não comer sempre «ração de combate», comiam carne de pacaça.

Foi-lhe entregue uma camioneta, Mercedes 322, com a qual andou quase sempre. Recorda que teve de ir a Carmona porque precisou de ser reparada, numa povoação que tinha um centro da tropa, estando lá durante 3 meses. O que lá tinha para distrair era um pequeno cinema. Foi onde conheceu um colega com paludismo.

Em Zalala, recorda duas emboscadas no mato. Transportava os atiradores, mas uma dessas operações foi perigosa. No primeiro mês já havia mortos na companhia, um deles era de Lisboa, outro da Marinha Grande… o da Marinha Grande, tinha-lhe pedido 30 escudos e quando foi para uma operação, foram para uma zona perigosa, Arvore Vaidosa, … onde haveria de falecer. A sua caserna era em frente das transmissões, onde recebiam e enviavam as notícias por códigos para os turras não captarem onde estavam. Ele foi-lhe levar os trinta escudos e disse-lhe:«- Oh São Brás, peço ao R. Silva 30 escudos e dou-te aqui porque não se sabe o que pode acontecer e a minha família é vizinha da dele, logo liquidam as contas», parece que adivinhava que ia morrer… são memórias que marcam para sempre.

Armando ganhava um conto e cem, mandava seiscentos escudos para a mãe e ficava com quinhentos.

Os últimos oito meses foram passados em Luanda, a 8 km, em Cacuaco, onde viu os seus tios João e Gracinda. Ao fim de semana, ainda recorda, quando estavam livres, iam para a praia.

No dia que estava destinado ao embarque: um colega teve um acidente, ainda ficaram lá mais algum tempo. Mais tarde, encontrou-o, o Guimarães, em Vila Real de Santo António e ao reconhecerem-se, começaram os dois a chorar… Não esquece quem o esperava na estação: a mãe, o primo Valter e a sua mãe Maria das Mártires.

Ainda tem a colher, o grafo e o prato que trouxe de lá… «Abalámos sem saber se voltávamos. A minha sobrinha, Vivelinda Lourenço, esteve sempre com a minha mãe, escrevia-lhe os aerogramas e mandava fotografias».

Armando também tinha uma madrinha de guerra de Paderne, foi o Rodrigues de Paderne que lá estava que lhe deu o nome dela.

São inúmeras as lembranças… Uma vez encontrou-se com um vizinho, o José Barradas da Feiteira, estiveram de conversa em frente ao gabinete do Major da CCS, a Companhia de Quitexe. Quando abalou fez pó. Mais à frente, o segurança mandou-o parar, pediu-lhe para voltar atrás e ir falar com o Major que lhe disse que tinha que falar com o capitão, quando chegasse à companhia. O castigo foi uma carecada e dois reforços, estar em cima de umas escadas altas a noite inteira com a espingarda, ver se vinha algum turra!

Não esquece também aquela emboscada em que abalaram com a camioneta cheia para ir manter segurança a uma máquina que estava a fazer uma estrada, iam numa zona baixa, as balas começaram a estoirar, atirou-se ao chão, deixou a arma na camioneta, não o mataram que não quiseram…durou muito tempo o tiroteio.

 

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