O seu nascimento, na década de 50, deveu-se a um grupo de amigos, enamorados da sétima arte, que se juntaram, criando a empresa “Unidos” e tomaram esta grandiosa obra: construir um Cinema em São Brás de Alportel. No dia da sua inauguração, a 21 de dezembro de 1952, foi exibido o filme “Duas Causas”, protagonizado pela atriz são-brasense Mariana Vilar.
A sua construção iniciou-se em 1950. O projeto contemplava uma lotação para 498 pessoas, entre a plateia e a tribuna, palco, sala de fumo, instalações sanitárias, bilheteiras, vestiário, bufete, um corredor de serventia para os camarins, palco e saída de espectadores de uma parte da plateia e um segundo piso com cabine de projeção, camarins para homens e mulheres e instalações sanitárias.
Em 1989, o edifício foi adquirido pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel e foi alvo de profundas obras de recuperação durante a década de 90, tendo reaberto as suas portas em 1993, iniciando uma nva fase na sua existência.
Em 2018, foi novamente alvo de obras de conservação e modernização para que continue a ser o palco principal para os grandes momentos da comunidade são-brasense.
Passadas mais de seis décadas de serviço à cultura são-brasense, continua a ser a casa de espetáculo por excelência do concelho, ponto de encontro, espaço de debate e reflexão, palco de espetáculos das mais diversas manifestações artísticas, ocupando um espaço muito especial no coração dos são-brasenses.
Nota Histórica
Após as primeiras exibições cinematográficas, ocorridas em Lisboa na tarde do dia 19 de junho de 1896, rapidamente a “assombrosa maravilha”, como foi então apelidada pelos jornais da época, se foi disseminando um pouco por todo o país. Ao Algarve, o chamado animatógrafo chegou dois anos depois, a 11 de setembro de 1898, em digressão que terá passado primeiro por Faro, no teatro Lethes, depois por Loulé, Albufeira e Tavira.
Até à adaptação de estruturas existentes ou criação de salas próprias, terá sido através de projecionistas itinerantes, ao ar livre ou em barracões improvisados para o efeito, que iam percorrendo as feiras e festas que se sucediam, em especial no período de verão, que o cinema foi chegando a muitos lugares, para delícia de ricos e pobres, patrões e operários, doutores e analfabetos, velhos e novos, homens e mulheres, que encontravam aí, na sua semipenumbra, um dos raros espaços onde, ainda que por breves e efémeros momentos, podiam esquecer as diferenças que os separavam.
Acredita-se que tenha sido também dessa forma que o cinema tenha chegado a São Brás, provavelmente ainda na primeira década do século XX, sabendo-se, por uma notícia do jornal Ecos do Sul, que no início de 1912 havia ou terá havido um “Salão Animatográfico” a funcionar nesta então aldeia.
Mas, a exemplo de muitas outras vilas e cidades, também São Brás de Alportel acabará por ter um espaço permanente, moderno e dotado das melhores condições para a exibição deste espetáculo que, de curiosidade de feira ou que servia para encher intervalos de peças de teatro ou partilhava o espaço e a ribalta com outros espetáculos, vai adquirindo, ao longo do primeiro quartel do século, um estatuto de grandeza que impõe a criação de novas tipologias arquitetónicas: o cinema, propriamente dito, dedicado exclusivamente à arte que lhe dá nome, e o cine-teatro, espaço que, permitindo a convivência do cinema com o teatro e outras artes performativas, oferece maiores possibilidades de rentabilização do espaço.
E, também a exemplo de outras vilas e cidades, a construção do Cine-Teatro São Brás, ideia nascida, algures nos finais dos anos 40, reza a lenda, à mesa do café por um conjunto de amigos cinéfilos, alguns dos quais haviam dinamizado a primeira sala permanente da vila, o Royal Cine, virá a constituir-se num marco de modernidade e de referência urbana, decorrente não só das suas linhas arquitetónicas, da função a que se destinava e daquilo que representava em termos sociais, mas também da localização onde se implanta: a nova avenida com que a então ainda jovem vila procurava impulsionar o seu desenvolvimento urbano.
Abril de 2019
Vitor Ribeiro
Investigador a desenvolver um trabalho sobre a História do CineTeatro