O património molinológico do concelho de São Brás de Alportel constituí um legado histórico-cultural que importa salvaguardar e valorizar.Verdadeiros exemplos de uma arquitectura vernacular e engenharia, os moinhos encerram em si um conjunto de dimensões de interesse, que passam pelo testemunho etnológico, histórico-antropológico e económico. Outrora elementos relevantes na vida da aldeia, hoje fazem parte de um imaginário bucólico.
Reconhecendo a importância deste património, classificado em Plano Director Municipal com o estatuto de Área de Espaços Culturais, o Município de São Brás de Alportel procedeu ao restauro do Moinho do Bengado, integrando-o num itinerário turístico transfronteiriço, no âmbito do Programa INTERREG III.
“Não havia outeiro, batido pelo vento, perto de povoado, que no seu cimo não tivesse o seu moinho. A ele conduziam um ou vários carreiros que eram percorridos, vezes sem conta, por mulheres e crianças, levando à cabeça o talego, saco branco de linho com um alqueire de trigo ou milho. Moído este, o moleiro retirava a sua parte, a maquia, uma oitava do alqueire. De regresso a casa, a farinha era transformada em pão, uma amassadura que, "bem governada" iria chegar para uma semana. Lavrador que produzisse um moio de trigo ( 60 alqueires) tinha assegurado o abastecimento de pão para um ano. Não havia ainda camponês experiente que, olhando o moinho e atento ao silvo dos seus búzios, não soubesse prever o tempo.”
José Sobrinho
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No alto dos montes, cantam a canção do vento e assobiam ao tempo que passa… Testemunhas atentas da história, os moinhos polvilham a paisagem com as marcas deixadas pelo tempo. Herança de actividades cente-nárias da transformação, pelo ho-mem, dos bens da terra, escondem histórias de antanho, quando ainda sabiam girar e dar ao povo o pão de cada dia…